#Aterrissaram 🛬
🎉Boas-vindas aos novos inscritos: m3curitiba, jsentose, maria.hilda, kyzaki, josiasalberti, fausto.monteiro, monicamdcaraujo, anderson21.maciel, cytastaldiassal, adriano_srd, mdlopes2003, natalia.paivaa, eduardo081064, rogmatsu@gmail.com
Esta edição é dedicada a todos aqueles que no Rio Grande do Sul passam por uma tragédia sem precedentes!
#Editorial
Faz pouco tempo que escrevia aqui sobre a criação de uma Unidade de Ciência Comportamental no Governo Brasileiro. Desde a criação a unidade que recebeu o nome de CINCO (Ciências Comportamentais em Governo) e vem mobilizando lideranças e promovendo ações diversas.
Ainda em idos de 2023 quando a CINCO foi criada, me juntei à euforia ver a Ciência Comportamental como uma das conexões para formalização e análise de políticas públicas no Governo Brasileiro. Desde então a CINCO tem realizado reuniões, desenvolvido projetos e fazendo um movimento interessante na área.
Infelizmente nem tudo é confete nesse carnaval.
Recentemente no Linkedin, uma postagem informava sobre mais uma reunião da CINCO. Dessa vez, no entanto, não era uma reunião com a comunidade da Ciência Comportamental brasileira. A postagem do dava conta de uma reunião com ninguém menos que Dan Ariely.
Para aqueles que não acompanharam, o Dan Ariely esteve envolvido num caso de fraude em dados de uma de suas pesquisas. O artigo publicado em 2021 na PNAS foi retratado após o episódio. Como declaração, Dan Ariely disse ter sido o único responsável pelo recebimento dos dados que vieram de uma seguradora, isentando os demais coautores da confusão.
Ainda sobre o caso, Dan Ariely enviou uma carta ao site Data Colada, que publicou as evidências de fraude nos dados, onde destaca: “Não suspeitei de quaisquer problemas com os dados. Também não testei os dados em busca de irregularidades…”.
Contexto criado é importante deixar claro que este evento não invalida os demais trabalhos e pesquisas do Dan Ariely, afinal não há mais evidências de má conduta dele em outros estudos. Entretando ter um artigo retratado, não é algo que reforça a credibilidade de um pesquisador.
Acredito que a CINCO, como uma Agência de Governo, no melhor interesse para com o compliance governamental e considerando a imagem da agência, precisa dar transparência à relação mantida com o Dan Ariely e com todos os eventuais contratados, associados e parceiros da CINCO.
No caso do Ariely, caberia até mesmo um esclarecimento adicional, considerando a situação referente ao artigo retratado e as evidências de fraude, acatadas pelo próprio Ariely. Não há motivos para se omitir tal informação, ainda mais quando o próprio pesquisador concordou com os fatos.
É injusto julgar o Ariely e toda sua pesquisa, mirando os holofotes apenas para o artigo com fraude dos dados. Porém não se pode apagar de sua biografia esse episódio. A CINCO faz bem em conversar com ele, mas é preciso que a agência se posicione a respeito da fraude, mostre conhecimento sobre o que aconteceu evitando ser surpreendido com questionamentos futuros.
Aliás, talvez seja a hora da CINCO aderir ao movimento de dados abertos para seus estudos, dando amplo acesso à toda comunidade de cientistas que desejarem estudar seus resultados, dados e métodos. Ter compromisso com a transparência é importante e reforça a posição da CINCO.
No mais, quem sabe a transparência da CINCO, não acaba servido de exemplo e incentivando outras agências a tratarem o tema com toda relevância que ele merece?
#FicaDica
🗣️Frase da semana
“O ser humano tem muito mais desejos que necessidades.”
_____ Johann Goethe
#Assista&Reflita
É ok falhar!
Mesmo depois de sermos frequentemente estimulados a enfrentar nossos fracassos olhando para o lado positivo, celebrando o aprendizado da jornada, a verdade é que lidar com fracassos é complexo ainda mais se eles acontecem com frequência.
Com a turma do Vale do Silício propagando seu mantra falhe rápido, falhe com frequência muitos se engajaram nessa “vibe”, mas estar exposto a sucessivos fracassos, nem sempre garante que vamos aproveitar apenas seu lado positivo.
Para quem não quer cair na conversinha motivacional sobre errar e seguir em frente, vale assistir ao vídeo que recomendo esta semana. O vídeo é uma entrevista sensacional com a Amy Edmondson autora do livro Right Kind of Wrong.
🧠Chat GPT 4o
Ele agora “raciocina” por voz e visão, além do texto que já conhecemos. A palavra raciocínio é bem emblemática na fala da humana que apresentou a nova versão do Chat GPT. Isso porque raciocínio tem relação com exercício da razão pelo qual se procura alcançar o entendimento de atos e fatos, se formulam ideias, se elaboram juízos, se deduz algo a partir de uma ou mais premissas.
É ao mesmo tempo chocante e interessante que uma máquina possa ter os mesmos “inputs” que nós humanos para formar seus raciocínios. Ainda mais chocante é perceber que essa capacidade supera a nossa quando assunto é armazenamento e recuperação das informações.
Kahneman dizia que existem dois “Eus”, um que lembra e outro que experimenta. Mas a inteligência artificial com toda sua competência em guardar, localizar e interpretar, pode estar atrofiando nosso “Eu” que lembra.
Quem tem um smartphone no bolso já não lembra mais das senhas, se não sabe chegar a algum lugar o GPS te leva, vai falar em público anota tudo no celular e se esquecer ele lembra, esqueceu a receita está salva no celular, os contatos estão salvos também, de cabeça nem conta matemática mais, já que o celular tem calculadora!
A evolução da tecnologia vai marginalizando cada vez mais nosso “Eu” que lembra. E isso vai sim afetar o eu que experimenta, basta lembrar daquela foto do ano novo em Paris. As pessoas filmando para guardar e não esquecer e deixando a experiência passar.
Já estamos perdendo a guerra para a inteligência artificial quando assunto é guardar e recuperar informações. Se pararmos de experimentar os momentos da vida para guardá-los em nossos dispositivos eletrônicos, vamos muito em breve perder também a guerra da experiência para as IA’s.
E quando chegarmos a isso, seremos ainda mais irrelevantes. As IA’s escolherão como recordamos de nossas experiências e isso, a meu ver é o mais próximo que poderemos chegar da Matrix. É a completa manipulação de quem somos, a renúncia de nossa individualidade. Talvez a mercantilização de nossas almas em definitivo!
😫Mais Dan Ariely
O novo livro do Dan Ariely sobre desinformação está disponível agora em português.
Se vale ou não a leitura eu deixo com vocês.
Pela leitura, percebe-se claramente o ressentimento do autor com casos e histórias falsas em que ele fora envolvido. O livro é repleto de situações narradas que beiram o absurdo e certamente não deveriam acontecer com ninguém.
Até onde li, no entanto, não encontrei nada referente à desinformação que ainda está vigente tendo como fonte o artigo retratado por fraude de autoria do Ariely em conjunto com outros autores.
Diferente dos demais que enfrentaram o problema, vieram a público prestar esclarecimentos, Ariely parece blindado pelo estrelato.
E se o artigo foi retificado, seu livro sobre desonestidade que contêm desinformação, pois faz referência o artigo retratado por fraude, não só continua em circulação, como segue sendo divulgado em suas novas publicações, como acontece com seu último livro: Desinformação.
É interessante que o autor tenha escrito um livro sobre desinformação que faz propaganda de outro livro que contêm desinformação. Se fosse possível ver o lado positivo disso, seria: pelo menos pode servir também de exemplo de viés da confirmação, não acham?
📚Leitura em destaque
Finalmente parece que a área de Ciência Comportamental tem entendido que as heurísticas e atalhos mentais também podem ser utilizados a nosso favor. Nem tudo é sobre humanos sendo tolos em suas decisões. Ufa!
Confesso que tive algum receio quando li a sinopse da editora. Fiquei pensando se o livro não seria esquemático demais, sabem? Daquele jeito em que funciona como um guia passo a passo, algo que não acredito quando assunto é comportamento.
Mas como é do Gigerenzer… Vale a pena arriscar.
Da sinopse da editora, separei o trecho abaixo:
Com base no programa de heurísticas rápidas e frugais, o Smart Management demonstra a eficácia da tomada de decisão heurística em uma abordagem dupla. Primeiro, introduz o conceito de racionalidade ecológica, que prescreve as condições ambientais sob as quais heurísticas específicas funcionam bem. Em segundo lugar, o livro descreve um repertório de heurísticas, chamadas de caixa de ferramentas adaptativa, que líderes, gerentes e profissionais podem desenvolver e confiar para tomar uma variedade de decisões, como estratégia de negócios, negociação e seleção de pessoal. A caixa de ferramentas não apenas mostra a utilidade prática dessas heurísticas, mas também inspira os leitores a descobrir e desenvolver suas próprias heurísticas inteligentes.
🏃💨 De saídas
🎓Herbert Simon: um livro inteiro sobre ele acabou de sair do forno. Espelhando a amplitude dos estudos de Simon, os capítulos analisam suas contribuições para a inteligência artificial, economia, empreendedorismo, gestão, psicologia e outros campos. [.htm]
🤡Essa foi meme: já perceberam que esta semana o Ariely reinou na minha timeline aqui né? E para finalizar com grande estilo, apareceu aqui a recomendação de um vídeo onde ele entrevista o Alex Edmans autor do livro: May Contain Lies. O meme deixo para vocês. [.htm]
💸Raios-X do investidor: saiu a nova edição da pesquisa da AMBIMA e o dado mais interessante nada tem a ver com investimento. Segundo a pesquisa, 14% da população faz apostas online nos sites BET qualquer coisa. Destes 22% consideram as apostas como um tipo de investimento financeiro. Confesso que tenho tendência a concordar rsrsrs.
🎁Achados da semana
💥Perfume
E esse empreendedor que teve a ideia de vender perfumes em frações?
Eu achei sensacional e vocês?
Muito bacana a reflexão sobre e postura do Ariely. Diferente de grandes nomes, incluindo Kahneman, que se manifestam sempre rapidamente diante de erros, incompletudes e mudanças de perspectivas teóricas, escolheu uma espécie de gestão de imagem ao invés de um processo de aprendizado e reflexão (há que lembrar que ele é tb professor). Me deixa um pouco decepcionada pq ajuda a perpetuar um dos problemas da ciência comportamental que é a "hiper" simplificação e a popularização de conceitos palatáveis mas pouco confiáveis.