Economia Comportamental #58
Sunstein pistola no twitter, liberdade em Marx, BIT e Shift frameworks
#Editorial
Provocar mudanças de comportamento com punições ou restringindo opções é atraente. Se você for um legislador ou formulador de políticas públicas a tentação é ainda maior.
Não apenas por parecer mais simples e fácil proibir certos comportamentos, mas por dar um certo conforto psicológico, culpando os desvios de conduta das pessoas, às suas próprias limitações e deficiências ou falta de civilidade e educação.
Mas proibir e legislar com objetivo de promover mudanças de comportamento, apesar de efetivas em alguns casos, não garante um sucesso retumbante. É preciso buscar novas abordagens, aproveitar as diferentes áreas do conhecimento, tateando qual deles tem mais aderência a depender de cada contexto.
Retornando de São Paulo, onde estive no encontro da Comunidade de Ciências Comportamentais (C3) fui tomando uma reflexão que pode ilustrar como na grande maioria das vezes não existem soluções únicas para a mudança de comportamento.
Na parada após algumas horas dirigindo, fiz um lanche e na saída, fui pego no corredor do consumo que antecede o caixa de pagamento. Lá comprei um picolé. Mas essa história fica para a próxima edição. Guardem por hora, apenas que saí da lanchonete comendo o picolé.
Entrei no carro, estava com pressa de chegar em casa, então fui logo ligando o automóvel e o colocando em marcha. Taí uma das vantagens dos carros automáticos. É possível dirigir com certa segurança utilizando apenas uma das mãos.
OBS: Não façam isso quando estiverem dirigindo!
Ignorando meu próprio conselho, segui viagem comendo o picolé e dirigindo com apenas com uma das mãos. E foi neste momento que eu tive uma epifania.
Segundo o código de transito não é permitido dirigir com apenas uma das mãos, salvo para: fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo, ou acionar equipamentos e acessórios do veículo.
Como podem ver, comer picolé e dirigir não é permitido por lei, mas…
Ignorando a lei, na ilusão de certeza da impunidade e com minha autoimagem blindada pela pressa em chegar em casa, simplesmente ignorei a lei, colocando a mim mesmo e aos outros condutores em risco.
Não me orgulho desse comportamento. Também não me considero um contraventor, mas como podem ver, às vezes cometo alguns desvios de comportamento que infringe as leis vigentes. As leis estão aí, mas dada a capacidade limitada de vigilância e as conveniências tortas das decisões humanas, riscos que poderiam ser evitados, acabam virando costumes perigosos no trânsito.
A Economia Comportamental poder ajudar e muitas outras áreas do conhecimento também. Situações complexas que envolvem mudança de comportamento coletivo ou individual, podem ter melhores desempenhos se, além das leis, forem adotadas medidas que vão além da imposição de normas aos cidadãos.
🗣️Frase da semana
“Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.
Karl Marx
#Assista&Reflita
Com o que você tem sem acostumado ultimamente?
Na apresentação do balé da Mattozinha (minha filha), teve uma performance solo em que uma bailaria interpretava esse poema. Lá sentado assistindo ao espetáculo fui pego de surpresa pelo poema.
Resolvi compartilhar aqui. Primeiro porque, diferente do que aparece no título do vídeo, o texto não é motivacional! Não é positivo, nem tem final feliz!
O texto é uma crítica!
Uma crítica que vale a pena receber e para a qual se deve separar alguns bons momentos de reflexão. Afinal, como o texto mostra, temos mesmo nos acostumado a muitas coisas.
Mas não devíamos!
🖼️Shift framework
A revisão de literatura que aborda cinco temáticas estruturadas num framework que forma o acrônimo SHIFT é incrível, podem acreditar.
Nela os autores mostram que, os consumidores são mais propensos a se engajar em comportamentos pró-ambientais quando a mensagem ou contexto alavanca os seguintes fatores psicológicos:
Social influence | Influência social
Habit formation | Formação de hábitos
Individual self | Eu individual
Feelings and cognition | Sentimentos e cognição
Tangibility | Tangibilidade
Se não for ler agora, guarde o link e quando precisar de um bom ponto de partida para engajar consumidores em determinados comportamentos… Use à vontade, mesmo que não seja referente a comportamentos pró-ambientais.
Certeza que, mesmo com objeto de pesquisa diferente, este será um excelente ponto de partida.
💡Ferramenta gratuita do BIT
O BIT (Behavioural Insights Team) criou uma ferramenta online e gratuita para ajudar a todos a vencer as barreiras que impedem mudanças de comportamento.
A ferramenta foi baseada no COM-B model, outro framework muito interessante, que já passou por aqui em alguma outra edição. Para quem perdeu, este post aqui explica muito bem e de forma resumida.
Para usar é simples, basta entrar no link da ferramenta, seguir o passo a passo.
Olha fazia algum tempo que não via uma ferramenta tão bacana! Por isso mesmo fui além. Fiz o teste e fiz questão de guardar todo o passo a passo para consultar quando precisar de ideias.
Veja como a parte dos cards ficou:
📚Leitura em destaque
Cérebros são únicos e segundo o texto do William A. Harris - professor emérito de anatomia da Universidade de Cambridge…
“Não há dois cérebros humanos iguais.”
No texto ele explica em detalhes e de maneira muito técnica, mas nem por isso o texto fica chato ou de difícil entendimento.
Vale a leitura demais! E aproveitando para dar spoiler, abaixo o trecho que mais me chamou a atenção:
“O corpo e o cérebro de todos diferem dos outros desde o momento do nascimento, e essas diferenças crescem à medida que a modelagem final de nossos corpos e cérebros é feita fora do útero e incorpora nossas experiências individuais no mundo. Como seres humanos, podemos exercer controle sobre o ambiente que proporciona essa experiência, de modo que posso deixá-los com o pensamento sóbrio e talvez reconfortante de que temos algum arbítrio para forjar a estrutura, a função e a saúde do órgão que é mais crítico para nossas identidades individuais como seres humanos.”
🏃💨 De saída
O Cass Sunstein estava na treta esta semana. Em seu twitter ele postou:
Equívocos sobre nudges. (Uma resposta a sete deles, incluindo a ideia absurda de que os nudges são "meros ajustes. ")
O artigo que ele citou na postagem não é recente e me arrisco a dizer até que já está meio batido. Mas tal qual os avisos das aeromoças… Nós já sabemos, mas não custa lembrar!
🎁Achados da semana
💥Encontro da Comunidade em SP
Esta semana teve encontro presencial da C3 (Comunidade de Ciências Comportamentais) em São Paulo. Claro que eu não iria perder essa, afinal disseram que iria o encontro seria no bar, não teria palestra e o Guilherme Lima ainda tinha me prometido um chopp.
As definições de imperdível foram atualizadas, concordam? hahahahaa
Brincadeiras à parte, o encontro foi excelente, muito bom conhecer alguns e rever tantos outros. Que venham os próximos!
PS.: O Guilherme Lima ainda continua me devendo o chopp kkkkkkkkkkk.
💥Liberdade em Marx
Você é livre? Pense a respeito sob um ângulo diferente, assista este vídeo e depois me conta se concorda com a ideia de liberdade expressa pelo Karl Marx.
Ah! E se você curtiu o vídeo…
Sugiro assistir a todo o curso que está no YouTube e aborda a temática do método em Marx. Acredite, foi uma das aulas mais sensacionais que tive a oportunidade de assistir.
PS.: já citei este vídeo aqui antes, mas confesso que estou obcecado por esta aula!
#MeJulguem
💥Deu ibope
Deu ibope o texto que saiu esta semana no site da BBC Brasil. O texto fala sobre como a falta de dinheiro provoca o estreitamento da “banda larga mental” causando uma espécie de sobrecarga que limita os processos cognitivos levando, por fim, a decisões ruins.
Ah, a matéria da BBC tem ainda falas da Flávia Ávila, que foi entrevistada para a matéria.
Cada vez melhor!!! Trabalho maravilhoso, Mattozinhos. parabéns!!!