Hashtag Economia Comportamental #126
A garota do celular, metaverso, comportamento e inflação, crossover entre Robert Sapolsky e Daniel Dennett e muito mais!
#Aterrissaram 🛬
🎉Boas-vindas aos novos inscritos: giovsnnagonc, jailson.lana, news*giltonpaiva, max, itnolas82, guiruffini, Jessicagmsds, vkstadnik, jessivicente, hortenciacalbuquerque, wellington.1985 e paula.
#Editorial
Ah o livre arbítrio…
Para muitos, uma realidade sustentada pela ilusão de liberdade, para outros um desejo inalcançável, para os realistas uma utopia e para quem pesquisa comportamento…uma dúvida.
Saí para almoçar um dia desses e enquanto esperava o sinal verde para travessia de pedestres, uma situação me chamou a atenção e colocou em marcha uma reflexão que compartilho com vocês.
Na calçada aguardando o sinal luminoso que possibilita atravessar a rua em segurança, aguardava pacientemente. Enquanto aguardava, olho para o laudo e vejo o grupo de pessoas que como eu aguardava para atravessar a rua.
Alguns comunicavam sua impaciência com gestos ansiosos, outros ameaçam atravessar antes do sinal verde, mas tinha uma garota em especial que parada na calçada, ignorava o semáforo. Toda sua atenção estava concentrada na tela do celular.
O tempo foi passando, os ansiosos e apressados se remexiam impacientes, eu observava tudo com curiosidade e a garota permanecia submersa no metaverso de seu celular.
O fluxo de carros era intenso, afinal estava na hora do almoço. Hora em que muitos pegam seus automóveis e correm apressados para almoçar, assumir o horário de trabalho, resolver assuntos pessoais renunciando ao almoço…
O tempo continuava a passar e a espera dos ansiosos parecia ser maior que a minha. Já a garota, bem… Ela sem dúvida experimentava um tempo muito diferente de todos ali na calçada. E o tempo passada, mas o semáforo teimava em continuar proibindo os pedestres de atravessar a rua.
Até que…
O tráfego reduziu abruptamente. Ao olhar ao longo da rua, os automóveis mais próximos estavam a muitos metros de distância. Eis a oportunidade esperada pelos ansiosos e apressados. Nenhum cálculo era necessário para perceber que havia uma chance muito boa de atravessar antes do permitido, com risco mínimo de ser atropelado.
A garota permanecia ao celular, eu olhei e numa fração de segundos os ansiosos e apressados, pularam na rua ignorando o sinal vermelho e o risco iminente de atropelamento. Quem nunca? ninguém foi atropelado. Todos foram bem-sucedidos em antecipar seu desejo de atravessar antes do semáforo permitir.
Esse não é um Editorial sobre acidentes. É sobre a garota ao celular.
Sem refletir ou avaliar os riscos, sem nem mesmo dar aquela olhadinha, ela simplesmente se lançou à rua seguindo os ansiosos e apressados. Não calculou riscos, não avaliou a situação, não percebeu o sinal ainda fechado, mesmo assim atravessou.
Nada houve com ela, a não ser o impulso seguindo a “manada” de forma inconsciente, automática e sem qualquer percepção dos riscos que corria. Comportamentos como o da garota, não acontecem apenas causados pela distração do celular.
Muitas vezes, mesmo plenamente conscientes escolhemos seguir a “manada”, ir com “a galera”, seguir o fluxo, sem refletir ou medir os riscos assumidos com essa decisão, seja ela deliberada ou não. É confortável compartilhar riscos com os outros, transferir a responsabilidade como nos tempos de nossa infância, em que respondíamos sem pestanejar: “Mas todo mundo estava fazendo isso ou aquilo!”.
Acontece que diferente da época de criança, a vida adulta cobra um preço alto pelas decisões que tomamos, independente se são conscientemente ou inconscientemente embasadas naquilo que outros fazem e decidem.
Qual preço cobrado? A responsabilidade pelas nossas decisões, que são somente nossas, com suas consequências, boas, ruins ou medianas… não importa. Todo preço pago pelas decisões que tomamos são pagos por nós mesmos.
E essa conta não tem como dividir.
🗣️Frase da semana
Justificar tragédias como "vontade divina" tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas.
___Umberto Eco
#Assista&Reflita
Esse vídeo está tão incrível que fica até difícil de explicar.
Não bastasse o Robert Sapolsky compartilhando todo seu conhecimento, ele encontrou um bom contraponto debatendo com o filósofo Daniel Dennett, com direito a várias farpas entre eles, obviamente partidas do Dennett, mas que encontraram réplicas à altura vindas do Sapolsky.
Em alguns momentos o responsável por conduzir o debate chegou a dar boas risadas da franqueza com que ambos se dirigiam e rebatiam argumentações um do outro.
Separe seu tempo, acomode-se num local confortável e aproveite, porque não é todo dia que vemos um debate maduro e profundo como este, entre dois pensadores que apesar das farpas, apresentaram suas discordâncias com respeito.
🔭Expectativas, comportamento e inflação
É de aplaudir de pé o FMI (Fundo Monetário Internacional) reconhecer que expectativas das pessoas influenciam as decisões de consumo e investimento com impactos para resultados nos níveis de preço da economia, a famosa inflação.
Já entenderam né?
O modelo de estimação de inflação futura não pode deixar de considerar a expectativa das pessoas sobre a inflação. Logo, a gestão de expectativas deve ser gerenciada e considerada como política monetária!
Sou obrigado a dizer que a Economia e Ciência Comportamental tem muito a contribuir nessa questão. Que incrível o que está acontecendo com a Economia gente!
💰Problema financeiro se resolve com dinheiro também!
Não é difícil concordar com a frase acima, afinal quem não sabe lidar com dinheiro, vai estar sempre sujeito a problemas financeiros. No entanto… A questão aqui é quão restrita é essa visão de problemas financeiros. Para citar o Kahneman: é mais um caso de enquadramento estreito do problema.
É mais um caso de WYSIAT (What you see is all there is).
Vocês já sabem, mas não custa lembrar que é necessário estimular a habilidade e a prática de enxergar além quando avaliamos situações, contextos, comportamentos e decisões. Nesse caso, tudo bem que existam problemas financeiros, causados por problemas com gestão financeira pessoal, mas todos os demais problemas financeiros?
E aqueles problemas causados sim pela falta de dinheiro resultante da precarização do trabalho, da desigualdade de renda e todos os demais problemas que marginalizam uma significativa parte da população brasileira? Penso que já é hora de pensarmos estratégias para lidar com este outro lado problema também. Porque boa parte do problema financeiro de muita gente, se resolve com dinheiro sim!
📚Leituras em destaque
Dois lançamentos para ficar de olho! 👀
📕Novo livro do Dilip Soman com prefácio do Michael Hallsworth.
📕Novo livro do Pelle Guldborg Hansen que nem bem foi lançado e ele já alfinetou no Twitter que:
“[estas Notas] não são escritas para turistas da área que desejam uma experiência divertida ou leve. Eles podem ir ao circo."
Achei meio rude, arrogante e pretencioso demais. E vocês? Vamos ver se é tudo isso mesmo quando for publicado.
🏃💨 De saídas
🧑🤝🧑Sistemas Comportamentais: O Busara Center for Behavioral Economics publicou um paper muito interessante com foco no que na combinação entre Ciência Comportamental e Análise de Sistemas. O paper está incrível! Leiam! [.htm]
📊Gráficos 2.0: Chenxin Li, um pesquisador criou um guia de boas práticas com dicas sobre como representar gráficos e dados estatísticos. O guia é incrível e vai mudar a forma como você faz gráficos, pode apostar. Ah e para melhorar ele compartilhou todos os scrips com códigos do R. [.htm]
💣Agora o metaverso vai bombar: a Disney divulgou um vídeo de uma espécie de tapete em que possível caminhar sem sair do lugar. Ah, mas esteiras já fazem isso! Fazem, mas para você entender direito e entrar na vibe da euforia… só assistindo ao vídeo.
🎁Achados da semana
💥Gráficos 2.0 de novo
Se você não se convenceu a acessar o guia de gráficos 2.o do Chexin Li… eis aqui alguns para você ter como motivação extra.
💥A treta do chá
Você aí preocupado com amenidades como inflação, guerras, conflitos armados e as embaixadas dos EUA e UK discutindo e divergindo sobre formas mais adequadas de fazer chá. Dá para acreditar?