Hashtag Economia Comportamental #130
😢 Adeus ao Kahneman e outros assuntos muito menos relevantes...
#Aterrissaram 🛬
🎉Boas-vindas aos novos inscritos: arielpasserino, silvio_arend, monteirofernando137, natalia.shmidt, caio_gad, hannahriff, gustavo@gsatech e vinil.braile_0g.
#Editorial
Impossível escrever um editorial sem reverenciar o Daniel Kahneman, que na semana passada faleceu deixando um legado inquestionável para a Ciência Comportamental.
Não é preciso destacar seus feitos, isso já foi muito bem-feito por todos os cantos do mundo e nos mais diferentes formatos possíveis. Cabe, entretanto, destacar o exemplo de simplicidade e humildade que juntamente com o legado científico e acadêmico permanecerá vívido e com lugar cativo na história.
Já que esquivei de enaltecer os feitos acadêmicos e pessoais do Kahneman, resolvi contar uma história pessoal, relacionada a ele, que aconteceu comigo no ano de 2002.
Acordei naquele dia com um pouco mais de preguiça que de costume.
Me arrumei para sair de casa, fiz um misto quente com mais queijo que presunto, exagerei na manteiga, coloquei no prato e sentado à mesa, assisti alguns minutos do jornal matinal. Como sempre o horário era apertado. Aqueles vinte minutos em que hesitei em sair da cama, me custaram o tempo necessário para apreciar o café da manhã enquanto acompanhava as notícias do dia.
Logo na abertura do jornal, uma manchete sequestrou minha atenção. A repórter anunciara que havia sido divulgado naquele dia o ganhador do Nobel de Economia. Quando se está cursando o curso de economia, é impossível ignorar a divulgação do Nobel.
Terminei o misto quente e fiquei com peso na consciência pelo excesso de manteiga. Não me penalizei demais, afinal àquela altura já havia contabilizado mentalmente os riscos e decidido exagerar na manteiga para reduzir as chances de comer um misto seco e com menos sabor.
Já era quase seis e meia da manhã, tinha muita neblina lá fora. O horário do ônibus se aproximava. As duas linhas de ônibus até a universidade, me exigiam sair cedo ou perder a primeira aula. Olhei para o relógio e me senti ridículo ao perceber que não havia passado sequer um minuto desde a última vez que conferia as horas.
A ansiedade e sua capacidade de nos deixar um pouco mais tolos. No jornal as manchetes davam destaque para eleições presidenciais e o assunto da divulgação do Nobel de Economia ia ficando para o final. Ansioso ensaiei olhar novamente o relógio, mas fui poupado pelo jornalista que anunciava o comercial, mas antes dizia a hora local: “Seis e cinquenta e cinco!”
Levanto-me da mesa, e num sobressalto pego a louça. Atrapalhado derrubo o garfo primeiro e logo em seguida é a faca que cai no chão. Apanho os dois talheres e chego à cozinha fazendo muito barulho ao largar tudo na pia. Escuto o barulho do ônibus subindo a rua. Não será dessa vez que seguirei as recomendações de minha mãe para não deixar a louça suja pia.
Corro para o quarto com uma velocidade digna de quem foge para salvar a própria vida. Pego a mochila, a carteira com o dinheiro contado para a passagem e o lanche. Passo ligeiro pelo corredor, chego até a sala onde na televisão a jornalista avisa com entusiasmo: “A Fundação Alfred Nobel acabou de divulgar agora pela manhã o ganhador o Prêmio Nobel de Economia!".
Detenho de imediato minha mão que avançava em direção à maçaneta da porta principal da casa. O aumento do barulho do ônibus não me deixa dúvidas, se voltasse para assistir ao jornal, teria que esperar pelo próximo. Vacilei por alguns segundos. Esse tempo, mesmo ínfimo, foi mais que suficiente para me fazer perder o ônibus. Olho pela janela inseguro. Vejo o ônibus ir embora e com ele, todos aqueles alunos que não iriam perder a primeira aula por causa do Nobel de Economia.
Largo a Mochila com pesar de ter decidido impulsivamente me atrasar para faculdade e perder a aula de microeconomia. Não seria nem a primeira, nem a última vez que perdi essa aula. Aceitei a gafe, larguei a mochila, voltei à mesa ainda com restos do misto quente e algumas gotas de manteiga e esperei pelo anúncio do Nobel.
A jornalista então disse a frase mais inesperada que um economista em formação como eu, lá no ano de dois mil e dois poderia escutar:
“O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido ao Psicólogo Daniel Kahneman e ao Economista Vernon Smith.”.
Entrei em parafuso nessa hora! Como era possível um psicólogo ser premiado com Nobel de Economia? Àquela altura, embriagado com a certeza da matemática dos primeiros semestres da graduação em economia, não fui capaz de alcançar o significado das contribuições do Kahneman para a economia.
Primeiro perplexo e depois indignado, fui para universidade decidido a pedir explicações aos professores sobre aquela “aberração” de terem dado o Nobel de Economia a um psicólogo.
Não obtive respostas dos professores. Então fui procurar entender a pesquisa do kahneman. Para minha surpresa não entendi direito a matemática dos artigos dele.
Foi então que calcei as sandálias da humildade, reconheci minha ignorância e passei a me interessar por Economia Comportamental.
Este editorial tem a pretensão de ser ao mesmo tempo um lamento pela partida do mestre, um pedido de desculpas pelo julgamento precipitado, injusto e inquisitivo sobre sua premiação com Nobel de Economia; e um agradecimento por ele ser psicólogo, afinal, não fosse isso talvez eu não teria encontrado a Economia Comportamental tão cedo.
Me arrisco a dizer que talvez ela sequer tivesse existido como a conhecemos hoje.
#RipKahneman
🗣️Frase da semana
“Há uma limitação desconcertante de nossa mente: nossa confiança excessiva no que acreditamos saber, e nossa aparente incapacidade de admitir a verdadeira extensão da nossa ignorância e a incerteza do mundo em que vivemos.”
___ Daniel Kahneman
#Assista&Reflita
Já que o Editorial foi sobre o Eu que lembra…
O vídeo da semana é sobre uma parte da pesquisa da Kahneman sobre bem-estar e felicidade. Nela ele explica as descobertas da psicologia sobre a forma como lembramos de experiências que tivemos e como vivenciamos estas mesmas experiências.
O interessante aqui fica para o fato de estes dois “Eus” serem bem diferentes em termos de como avaliam o nível de bem-estar e felicidade. Parece que o ditado: “recordar é viver” precisa ser atualizado.
Minhas apostas:
1 - Recordar é ruído!
2 - Recordar é sistematicamente inconsistente.
🧠 Contra burocracia… Dan Ariely!
Se tem uma crítica que nunca poderá ser feita ao Dan Ariely, ela está na sua criatividade e capacidade de executar boas ideias.
E é nessa vibe que que ele voltou à toda nas redes sociais prometendo vídeos semanais de seu mais novo projeto: Centro de Burocracia Avançada (CAB).
Segundo ele mesmo divulgou em vídeo recente nas redes sociais, ele irá lançar um novo vídeo todas as semanas sobre a estrutura e falhas com burocracias nos locais de trabalho. Os vídeos vão explorar onde os sistemas podem reduzir a motivação dos funcionários e oferecer conselhos úteis sobre como podemos melhorar.
Daqui informo que irei acompanhar, claro! 🥴
Mas queria fazer apenas um combinado. Estabelecer apenas uma condição: deixemos de lado as burocracias relacionadas às assinaturas no topo de provas ou documentos, ok?
Desculpe, mas o eu que lembra é implacável.
💡Kahneman reverenciado na trend
Algum tempo atrás era comum escutar o delírio de que: a existência de uma pessoa, objeto ou até mesmo de um conhecimento, estariam condicionados ao aparecimento nos resultados da pesquisa no Google.
Alguns mais radicais, restringiam ainda mais o delírio, dizendo que a condição de existir seria aparecer nos resultados da pesquisa do Google e em sua primeira página. Já para ultrarradicais… a existência estaria condicionada, de forma ainda mais exigente, ao aparecimento no primeiro resultado da primeira página da pesquisa do Google.
Onde isso vai parar? Não sei, mas o fato é que o capitalismo já deu um jeito nisso. Seguindo esse delírio sobre existência condicionada à pesquisa do Google, hoje é muito simples existir. Basta, ter dinheiro e pagar o anúncio, que você aparece no topo de qualquer página que quiser.
Crítica social à parte… 🫠
Veja abaixo como repercutiu a morte do Danie Kahneman pelo Brasil e pelo Mundo na pesquisa do Google.
🌎 No mundo
🇧🇷 No Brasil
📚Leitura destaque
Tenho estado muito interessado em leituras sobre causalidade. E nas pesquisas para selecionar leituras, me deparei com esse livro aí. A boa notícia é que o livro tem uma versão web totalmente gratuita e disponível no site. [.htm]
Ainda não li, mas confesso que o livro passou na frente da fila depois de ler o post do @econometriafacil do instagram:
O começo já é diferente. Ele passa os primeiros capítulos explicando sobre causalidade, identificação, diagramas causais... ou seja, começa ensinando a pensar para depois falar de modelos.
Uma coisa que gostei especialmente é que o autor passa por vários modelos e tira o foco da demonstração inútil de teoremas para mostrar coisas realmente relevantes para quem está começando na matéria. E tem ótimos exemplos, muitos gráficos, tabelas, resultados, códigos... perfeito para um primeiro contato.
Este é meu livro preferido para começar na econometria, e com certeza deveria estar na formação dos próximos economistas!
PS.: livro de microeconometria. Tem RDD, Diff-in-Diff e tudo mais, mas você não vai ver série de tempo aqui.
PS2.: E o melhor, está disponível de graça em theeffectbook.net, mas, infelizmente, ainda só tem em inglês.
🏃💨 De saídas
🎙️ Gigerenzer PodCast: Em A Inteligência da Intuição, Gerd Gigerenzer desafia o senso comum relacionado à intuição – a saber: que ela é de alguma forma inferior à racionalidade lógica. Convidado do PodCast Thinkers & Ideas, Gigerenzer traz reflexões interessantes e indispensáveis. Escute! [.htm]
☕ Manipulações do Starbucks: um perfil no instagram detalhou três manipulações utilizadas pelo Starbucks para despertar o desejo de consumo, mesmo vendendo cafés medíocres e de qualidade duvidosa. Detalhe: todas as três manipulações utilizam Ciência Comportamental. [.htm]
🤑 Nati explicando heurísticas: merecia um roteiro melhor o vídeo a Natalia Arcuri explicando as heurísticas. Até começa bem, mas se perde no meio e acaba entregando um conteúdo pobre e rasteiro. [.htm]
🃏 Aprendendo a fazer: o site behavioraleconomics.com publicou um post sobre metodologias em Ciências Comportamentais que vale uma aula. Direto ao ponto ele mostra o que evitar, discute criticamente assuntos espinhosos como comportamento autorrelatado nem sempre ser preciso e, portanto, nem sempre ser suficiente como único método de pesquisa. [.htm]
🎁Achados da semana
💥Epidemia de apostas
Até o Luva de Pedreiro (lembram dele?) agora tem sua própria casa de apostas.
Não é preciso estar muito atento para perceber que há um consumo cada crescente de apostadores no Brasil. Depois do recorde de CPF`s na B3, agora os coachs de finanças pessoais terão que engolir o recorde de CPF`s nas casas de aposta.
Nenhuma novidade, afinal B3 também é aposta, não fosse isso, não haveria empresa que vale mais na bolsa que no balanço. #prontofalei
Daniel Kahneman merece todas as reverências.