Hashtag Economia Comportamental #145
Ecologia da mente. Amores de carnaval e a economia comportamental. Livro: A Ciência das Boas Decisões. E tem muito mais!
🛬Aterrissaram desde a última edição: 76 novos geeks 😍
#Editorial
E a nova trend das fotos animadas ao estilo Studio Ghibli?
Não sei se o óbvio precisa ser dito, mas em todo caso vou me arriscar nisso. A trend é um belo caso de comportamento de manada, fear of missing out, comportamento pró-social e porque não de estratégia de marketing.
De uma hora para outra o feed se transformou num grande mangá moderno onde todos os personagens reais criaram seus avatares ao estilo Ghibli. Estas ondas que estimulam as pessoas a seguirem determinados comportamentos, servem a reflexões sobre nosso tempo.
Mais do que uma modinha, o estilo Ghibli teve um poder mobilização e engajamento impressionantes. Comportamentos em geral são contexto dependentes, utilizam redes de referência, pressões sociais, conformidade de expectativas, mas o que vimos no feed foi uma salada heterogênea de perfis, idades, culturas e muito mais seguindo a trend.
Fenômeno muito discutido com a globalização e agora com a popularização da internet, a expansão das redes de referência e sua influência para adoção de comportamentos ancora-se como nunca nas redes sociais.
Sim somos animais sociais, decidimos a partir de pontos de referência que foram construídos em comunidade dentro de contextos particulares e por um tempo considerável.
A pressão por conformidade e adesão, bem como a necessidade em ocupar o feed com a última moda, fortalecendo os laços como cidadão das redes se impõe, mostrando que talvez a rede social seja a mais eficaz rede de influência e referência para motivar comportamento.
E assim vamos pulando de trend em trend, renovando nosso visto de cidadão digital e pagando um preço elevado na mais nova moeda da economia: a atenção.
A reflexão que fica é: será que a vitrine das redes sociais mídias sociais não estão reduzindo a humanidade a meros produtos de consumo, vendidos a preço de visualizações, likes e comentários? Será que precisamos mesmo ficar anunciando e falseando quem somos e nos vendendo online todo tempo?
Enquanto é simples encontrar o tutorial para entrar nas trends da moda, é cada vez mais difícil existir como gente e não como coisa. E para reforçar de forma poética esse editorial, deixo vocês com um trecho de um dos poemas mais incríveis de todos os tempos. Leiam e reflitam:
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
🗣️Frase da semana
“Mas muitas vezes as razões não são razões. São sentimentos.”
____ Paul Slovic
#Assista&Reflita
A capa é meio sensacionalista, mas a aula é muito boa e dá um excelente panorama da Economia Comportamental.
Se você for muito familiarizado com a disciplina, pode pular para o minuto 27 onde o Professor Cahal Moran traz críticas e dificuldades e depois emenda em suas perspectivas para o futuro.
Se você ainda não for um “iniciado”, pode assistir do início, a aula é bem dinâmica direta e de entendimento facilitado.
Apesar de estar em inglês, as legendas do YouTube ajudarão bastante aqueles mais enferrujados no idioma.
🌳Ecologia da mente e da racionalidade
A "ecologia da mente" é um conceito desenvolvido por Gregory Bateson que descreve como os processos mentais e as interações entre indivíduos e seus ambientes se organizam em um sistema dinâmico e interconectado.
Bateson argumenta que a mente não é algo isolado dentro de cada indivíduo, mas uma rede de relações e padrões que envolvem tanto os processos mentais internos quanto as influências sociais e culturais externas. A ecologia da mente vê o comportamento humano, a comunicação e a cognição como elementos que estão em constante interação e adaptação, com o equilíbrio sendo fundamental para o funcionamento saudável do sistema.
Já para Gigerenzer a racionalidade ecológica é um conceito que contrasta com a visão tradicional de racionalidade baseada na maximização de utilidade. Gigerenzer propõe que os seres humanos e outros organismos frequentemente utilizam heurísticas simples e eficientes para tomar decisões rápidas e satisfatórias. Essas heurísticas são adaptativas e eficazes em diferentes contextos, onde a informação é limitada ou incerta. Em suma, a racionalidade ecológica enfatiza a capacidade de tomar decisões inteligentes e adaptativas dentro das limitações práticas do ambiente real.
Interessante ver a relação entre os dois conceitos e seus pensadores, não acham?
Coluna da Marcella: Amores de carnaval
Baseado em dores de cotovelo reais.
Um dos princípios da economia clássica é a estabilidade das escolhas. O exemplo é simples! Quem prefere bolo à sorvete vai preferir bolo à sorvete sob qualquer circunstância. O conceito de arquitetura de escolhas, definido por Thaler e Sunstein, foi um dos grandes avanços trazidos pela economia comportamental. Nele, o contexto é incorporado à análise de preferências, mostrando como a combinação de determinados fatores influencia a decisão, tornando mais acurada a previsibilidade da resposta. Complexo, né?
Talvez a história de um amigo ajude a entender!
⚠️Serão usados nomes fictícios para preservar o amigo da exposição da derrota.
Mauricio é, como eu, um folião desses inveterados. No furor do carnaval, envolvido pela música, dança, álcool e muita disponibilidade afetiva encontrou Laura, uma amiga de muitos anos por quem havia sido apaixonado. Envolvido pelo calor do momento, Maurício escolheu a festa e sequer percebeu que Laura estava toda toda para cima dele.
Passado o reinado de momo, em outro contexto, de ressaca, sem dinheiro e assistindo série sozinho no sofá, Maurício mandou mensagem para os amigos à procura do contato de Laura. Tarde demais para escolher a paixão… a amiga achou infantil e descuidada a postura dele e não deu mais a menor bola.
Falei com ele sobre arquitetura de escolhas e como o contexto influencia as decisões na tentativa de passar um pano e dar um levante no ânimo do coitado. “Ta vendo! Vou falar para ela que a culpa não foi minha, foi do contexto!” Rimos. Maurício segue sozinho curtindo a dor de cotovelo largado no sofá. Pobrezinho…
📚Leitura em destaque
Se você acompanha dos lançamentos de livros, A Ciência das Boas Decisões do psicólogo Richard Davis, não deve ter passado despercebido. Lançado no mês de março último, o livro traz uma abordagem interessante e mesmo sem ter lido, me despertou alguma inquietação. Eu explico.
A sinopse do livro traz uma reflexão muito interessante. O livro parece fugir da empreitada ingrata de avaliar sentimentos como determinantes de comportamentos e foca na personalidade. Vejam o diz a sinopse:
“Muitos psicólogos concordam que cinco traços definem nossa personalidade ― abertura, conscienciosidade, extroversão, agradabilidade e neuroticismo. Ao contrário das emoções, que são transitórias, esses traços são consistentes e estáveis, e nos permitem insights valiosos para a tomada de decisão.”
Não sei vocês, mas me deu uma vontade danada de aprofundar mais nos estudos das personalidades. Talvez o livro possa ser um bom começo.
🏃💨 De saídas
🫨Freakonomics: dois episódios recentes do Freakonomics PodCast com participação do Richard Thaler sobre Sludge. Imperdível! [.htm]
🗓️Behavioral Science Week: acontece na próxima semana entre os dias 07 e 11 de abril, totalmente gratuito e online. Entre os temas mais esperados, pelo menos por mim, estão: introdução à inteligência artificial aplicada à Ciência Comportamental e testes e evidências para fortalecer a tomada de decisões. [.htm]
🗞️Discordar é viver: não sou de concordar com a Deborah Bizarria colunista da Folha de São Paulo e uma das raras pessoas com formação em Ciência Comportamental que escreve para mídia jornalística. Mas a coluna dela de final de março, Más notícias se espalham mais rápido, realmente cabe reflexão e merece atenção. [.htm]
🍍Pequeno grande avanço: um megaestudo conduzido pela Iniciativa Behavior Change for Good da Universidade da Pensilvânia e que teve como pesquisadoras Katy Milkman e Angela Duckworth, dentre outros, apresentou que mensagens de e-mail informadas sobre comportamento melhoraram o progresso matemático dos alunos durante o período de intervenção em 1,89%. A intervenção mais eficaz, que aumentou o progresso matemático dos alunos em cerca de 5,06%. [.htm]
🦊Comportando-se como animal: e não é que tem seres humanos se comportando como animais? Os Thereans como têm sido chamados os praticantes de imitação de comportamento animal, estão aparecendo inclusive no Brasil. Estranho não? Censurei meus próprios comentários sobre esse assunto. [.htm]
🎁Achados da semana
💥Uma bela lista de livros do Phill Agnew
O Phill postou uma lista de livros essenciais, segundo ele, que ele leu nos últimos cinco anos. Vale demais conferir. Link aqui!
💥5 lições sobre tomada de decisão vistas no SXSW 2025
O Ulisses Zamboni do site Mercado e Consumo fez um post interessante sobre insights que teve quando acompanho o SXSW deste ano. Foram eles:
A Influência grupal na decisão individual é muito maior do que a decisão pessoal de compra;
As pessoas são menos egoístas e irracionais do que pensamos na hora do consumo;
Focus group: uma armadilha para as marcas se os resultados forem tomados de forma isolada;
Marcas com propósito x marcas com prazer: o que faz vender mais?
A estratégia da escassez no universo de compras digital pode ter efeito contrário com o consumidor.
Os detalhes sobre cada um, você pode acompanhar direto no artigo do site do Mercado e Consumo clicando aqui
🎉Boas-vindas aos novos inscritos:
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