Hashtag Economia Comportamental #67
Meta-Nudging, pseudociência e Economia Comportamental no CNJ
#Editorial
A semana passou e por aqui foi uma semana tão intensa, que tive que escrever esta edição às pressas. Ufa!
Tive uma viagem a trabalho que consumiu além de todo o tempo útil, minhas noites nos últimos dias. No entanto, acho que vale a pena contar um pouco do que aconteceu na minha viagem a trabalho.
Peguei o voo para São Paulo e desde o início da viagem, não pararam de acontecer situações que podem perfeitamente ilustrar comportamentos e decisões com suas imperfeições e vieses.
Já no primeiro dia, tive um exemplo de como são fortes opções padrão. Fui a pelo menos quatro restaurantes diferentes, onde fui atendido por pessoas diferentes, mas que apresentaram comportamentos parecidos.
Ao pedir a bebida nos restaurantes, um padrão me chamou a atenção, não apenas pela falha, mas pela repetição em situações e contextos diferentes. Não sei vocês, mas eu não gosto de refrigerante com gelo, limão ou laranja servidos no copo.
Mas em todos, repito, em todos os restaurantes que estive, mesmo informando aos garçons que gostaria do refrigerante sem nenhum tipo de “adorno” no copo, não consegui ser servido como solicitado.
Quando pedia Coca Cola, ela vinha sempre com gelo e limão. Passei então a pedir Guaraná e então o copo passou a ser servido com gelo e laranja.
É o poder da opção padrão em ação ou seria uma espécie de norma social presentes nos restaurantes em que, refrigerantes só podem ser servidos com gelo e alguma fruta no copo?
Não sei dizer, mas confesso que a partir do terceiro erro, desisti de reclamar, fraquejei e aceitei resignado os refrigerantes tal como me era oferecido. E isso me fez de um documentário documentário famoso, o Super Size Me.
No documentário, uma pessoa passou algum tempo comendo apenas Mcdonnalds e havia a condição de que, se fosse ofertado opções para aumentar a quantidade de batata e refrigerante, ele não poderia recusar.
Não é simples vencer as opções padrão ou as normas sociais. Às vezes só resta se conformar, aceitar e adaptar-se a elas.
PS: descobri que o documentário agora possui uma segunda versão. Legal né? Se quiser assistir, aproveita que tem gratuito no Youtube.
🗣️Frase da semana
"O que eu gosto mesmo na Coca-Cola é que o presidente dos Estados Unidos não pode arranjar uma Coca-Cola melhor que o mendigo da esquina."
Andy Warhol
#Assista&Reflita
O livro Ruído do Kahneman, Sunstein e Sibony chegou ao Conselho Nacional de Justiça?
Parece que em certa parte sim. Vejam o vídeo com a notícia e se tiverem disposição a sessão toda do CNJ.
O evento na íntegra vocês podem acessar clicando, aqui para a parte 01 ou, aqui para a parte 02.
☣️ Expert no viés da confirmação
O Ministro da Economia Paulo Guedes, esteve na Expert XP, um evento sobre investimentos muito interessante que tem palestrantes muito ilustres, mas que parece sofrer de uma certa fuga ao tema em algumas palestras.
Mas fuga ao tema importa num evento como este? Talvez o que importe mesmo sejam os shows e as narrativas.
Este ano em especial, o evento teve de tudo um pouco. Teve jogadora de tênis, piloto de fórmula 2, humorista, atleta paraolímpica, nadadora, consultor de crypto, jornalista esportiva…
Quanta diversidade né?
Não vi nenhum economista comportamental por lá, vocês viram? Em compensação, parece que todas as hashtags associadas a investimentos e finanças pessoais estava presente.
Detalhes à parte, o destaque mesmo, além das plumas e paetês de pessoas famosas que nada falaram de investimentos ou finanças, ficou para o Paulo Guedes.
Na entrevista, o que me chamou a atenção não foi tanto o que disse o Ministro da Economia, mas sim como ele foi festejado pela plateia.
A julgar pela sua fala, contaminada com falsa modéstia, excesso de confiança e informações imprecisas, ficou claro que o viés da confirmação e o pensamento de grupo são muito fáceis de viralizar.
💀 Charlatanismo vende
Não é fácil respeitar os limites da Ciência. Isso porque é fácil e muitas vezes desejamos que hajam explicações e soluções mágicas para certas situações em nossas vidas.
Não há!
Num post muito interessante no Twitter, o José Alencar que é médico e dentre outros, escreveu o livro Medicina Baseada em Evidências, fez um fio em que analisa e expõe o contexto onde muitos se perdem no charlatanismo e na pseudociência.
Vale a pena conferir!
📚Leitura em destaque
Na semana passada publiquei aqui dois artigos que mexeram com as bases da Economia Comportamental.
Em um deles, os autores, após realizar uma meta análise, encontraram evidências da presença de viés de publicação. No outro artigo os autores, calibrando os resultados pelo viés de publicação encontrado no primeiro artigo, concluíram que não haveria evidências da eficácia de Nudges.
Na continuidade deste debate, houve muitas manifestações na internet. Em especial o Behavioral Scientist, tratou o tema de forma sóbria, apesar de na minha opinião ainda ter deixado arestas importantes.
De qualquer forma vale demais a leitura e claro, o acompanhamento do debate que se seguirá às duas publicações.
Em tempo, ao final o autor sinaliza que a Ciência Comportamental precisa evoluir metodologicamente e classifica o artigo como:
“…podemos ver a última publicação no PNAS como um marco na evolução da ciência comportamental aplicada: mais como uma campainha de intervalo do que uma “sentada de morte”. A fase atual foi dominada pelo pensamento binário que é enganoso e faz um desserviço a todos. Efeitos grandes e consistentes versus efeito zero. O “frame individual” versus “o frame do sistema”. Nudges versus “soluções maiores”. Como diz Linder Jeffrey : “Dizer 'empurrões funcionam' ou 'empurrões não funcionam' é tão sem sentido quanto dizer 'drogas funcionam' ou 'drogas não funcionam'”.
🏃💨 De saída
A ciência comportamental está mudando rapidamente. Se você que gosta do tema,não pare no tempo. Acompanhar os debates é crucial para evitar ficar à margem das melhores práticas em desenvolvimento no desenvolvimento e aplicação de insights comportamentais e Nudges.
Nele Tony Hockley, propõe uma abordagem complementar à forma clássica de implementar Nudges. A essa nova maneira, ele chamou de Meta-Nudge e definiu o termo como:
“Em suma, meta-nudging implica que, em vez de cutucar os usuários finais diretamente, alguém os cutucaria indiretamente por meio de “influenciadores sociais” que estão na posição de impor normas sociais. Essa abordagem está no espírito do recente apelo de estudiosos pedindo uma reconsideração da abordagem clássica de nudging, colocando mais ênfase no ambiente em que esses indivíduos operam. Por sua vez, isso poderia ajudar a ciência comportamental a fazer a transição da alteração da arquitetura para a criação de infraestrutura”
🎁Achados da semana
💥Treta do Nudge no World Economic Forum
Chegou também no World Economic Forum a discussão sobre os artigos com viés de publicação e a questão sobre se Nudges funcionam mesmo ou não. Como disse, o debate deve ser acompanhado então vale a pena ler mais este post.
💥Mais de 1.000 cursos de Economia Comportamental
Fui no Udemy e fiz duas buscas com termos diferentes: Behavioral Economics e Economia Comportamental. Os resultados?
Behavioral Economics: 1.007 cursos encontrados
Economia Comportamental: 169 resultados, sendo que nenhum diretamente relacionado ao tema. Aí eu te pergunto: