Hashtag Economia Comportamental #91
Ódio também é um importante agente para mudança de hábitos. O livro que detona com as consultorias Big Five e claro, vai resvalar nas demais. E tem muito mais!
#Aterrissou 🛬
🎉 Boas vindas ao novo inscrito: orlandeux.design
#Editorial
Sempre quando preciso mudar ou criar novos hábitos, acabo me lembrando de estratégias que foram propostas em pesquisas e intervenções baseadas em insights comportamentais.
Nos últimos meses, em especial tenho recordado com frequência os estudos de caso, compartilhados pela Katy Milkman no seu livro How to Change.
As intervenções realmente funcionam. Mudanças em incentivos, alterações na forma como enquadramos situações, escolhas, novos começos e mudanças no contexto, trazem resultados. Mas quando penso em utilizar estes insights no meu cotidiano…
Não é tão simples fazê-los funcionar.
Geralmente quando insights comportamentais são desenvolvidos, eles são implementados por terceiros, que têm objetivos de estimular comportamentos em grupos e não neles mesmos. Logo, pesquisadores pensam as soluções, implementam e monitoram os resultados. Eles não costumam ser os sujeitos experimentais.
Resumindo: a grande maioria das mudanças são estimuladas por terceiros. Cada indivíduo então é impactado por um “design comportamental” de forma passiva, ou seja, sem participação direta no seu desenvolvimento.
No âmbito pessoal é bem diferente. É como se estivéssemos elaborando um jogo de palavras cruzadas para nós mesmos. Quando terminados de aprontar o design, sabemos todas as respostas e isso acaba aumentando as chances de trapacearmos ou nos faz perder o interesse de jogar.
Você pode argumentar, que podemos adotar mecanismos que estimulem nosso comprometimento com o design para mudança de comportamento que foi definido. Podemos terceirizar o monitoramento, colocando alguém responsável por validar nossos resultados ou executar alguma punição, caso não consigamos realizar o que foi planejado.
Se procurar bem, tem até sites que nos ajudam na tarefa. Mas nenhum deles consegue eliminar o viés de que fomos nós mesmos que criamos o design.
Na correria e agitação do mundo, estamos a todo momento sendo confrontados com comportamentos negativos que desejamos mudar. Da alimentação mais saudável à prática regular de exercícios, passando por poupar mais e gastar menos, hábitos que precisam de mudança são a regra e não a exceção em nossa rotina.
O que resolveria o problema de desenhar para si mesmo mecanismos baseados em insights comportamentais, não se adequa ao dinamismo da nossa rotina, na grande maioria das vezes. Não é simples encontrar alguém para nos monitorar, nem recurso financeiro para apostar com alguém ou entregar para algum site, que sirva como mecanismo eficaz de comprometimento.
Nesta semana pós carnaval, aproveitei o estímulo que minha “time line” proporcionou para acreditar que o ano começa agora. Fui então tomado daquela motivação dos recomeços, para novamente iniciar a cruzada por hábitos mais saudáveis na alimentação e com a prática regular de atividade física.
Com baixa expectativa e sem ilusões no processo, percebi que para estas questões de hábitos pessoais, o desafio é solitário. A academia não tem nenhuma estratégia comportamental para me auxiliar a manter a frequência.
Os restaurantes na sua grande maioria estimulam consumo de comidas não saudáveis. A correria nos deixa reféns do trade-off entre não comer ou comer algum junk food facilmente encontrado, de rápida fabricação e ingestão.
Os amigos, coitados, têm seus próprios desafios para cuidar. Imaginar que terei energia cognitiva e força de vontade suficiente para me manter na linha parece utopia.
O que me restou então?
Teimosia e ódio foi o que restou para esta nova empreitada. Afinal, se gostasse de exercício físico, eu não estaria fora de forma. Se gostasse de comida saudável, não estaria fora do peso.
Restou então confiar que o ódio destas coisas que detesto, sirva de motivação. E que a teimosia seja suficientemente grande para servir como meu mecanismo de comprometimento. Vamos ver se dá certo dessa vez.
Torçam por mim!
🗣️Frase da semana
“Não fazemos aquilo que queremos e, no entanto, somos responsáveis por aquilo que somos.”
Jean-Paul Sartre
#Assista&Reflita
Sim o Data Colada tem um canal de vídeos no Youtube e você deveria frequentar o canal deles, acredite!
Para além do canal, o vídeo desta semana trás algo raro, George Lowenstein, que não costuma aparecer com frequência nas redes sociais.
Uma das personalidades mais incríveis da Ciência Comportamental e desde a publicação do artigo The i-frame and the s-frame: How focusing on individual-level solutions has led behavioral public policy astray, em 2022, também um de seus críticos mais lúcidos e duros.
Loewnstein impressiona nesse vídeo, pela descontração, simplicidade e didática ao explicar um paper sobre narrativas e juízos de valor para turma do Data Colada.
Aproveitem!
🦖 Mudanças a caminho
É complicado acreditar que uma crítica pode mover toda uma área de pesquisa acadêmica. Mas sou otimista quando isso.
E para confirmar esse meu otimismo, esta semana já pude identificar na chamada para um evento da LSE (Londom School of Economics), que a crítica do Loewentein sobre a Ciência Comportamental pode estar muito bem endereçada academicamente.
Basicamente como já disse na news da semana passada, Loewenstein, criticou os baixos resultados de intervenções focadas em indivíduos (i-frame) e propos que a Ciência Comportamental tenha mais atenção com o sistema no qual os indivíduos operam (“s-frame”).
Separei o trecho da descrição do evento, vejam se não parece já haver uma reorientação para o s-frame:
Embora as políticas baseadas em insights comportamentais (IC) tradicionalmente se concentrem no nível micro e de grupo para a mudança, os modelos de comportamento do consumidor sempre conceituaram a mudança de comportamento como incorporada em sistemas socioecológicos e responsáveis pela dependência do contexto.
💡A Ciência também é “s-frame oriented”
Talvez eu esteja obcecado com a crítica e as ideias do paper do Loewenstein. Eu posso superar isso, espero que vocês também possam rsrsrs.
Navegando por um site bem interessante que tem a proposta de divulgar ideias subestimadas, eis que encontro… Mais uma citação que vai de encontro às conclusões sobre a necessidade e a Ciência ter mais atenção aos sistemas (s-frame).
Vamos ao trecho e prometo que falarei novamente sobre esse assunto apenas nos vídeos em que comentarei o artigo em detalhes. Segue o baile:
“…o fato de a ciência em equipe ser cada vez mais comum e de alto impacto sugere que podemos querer novas maneiras de avaliar ideias e reconhecer contribuições científicas, diferentes das estruturas tradicionais (como sistemas de posse e prêmios de pesquisa) que são centradas em indivíduos.”
📚Leitura em destaque
Se você acompanha minimamente o noticiário de economia e negócios, já ter se perguntado como certas falhas acontecem até mesmo quando grandes empresas são assessoradas por grandes consultorias?
Do vexame dos sub-primes em 2008, passando pela troca de envelope que fez um Oscar ser entregue para a pessoa errada, as consultorias não deixam de protagonizar cenas bizarras pelo mundo.
Mas será que são as consultorias as grandes vilãs? Ou será que os CEO´s por aí, não desejam é repartir a responsabilidade sobre as decisões que tomam?
Talvez este livro possa esclarecer um pouco essa história. E se você trabalha, possui ou contrata alguma consultoria, não se chateie comigo. Todos sabemos que existem muitas pessoas e consultorias sérias por aí, mas sempre é necessário depurar as laranjas podres de vez em quando.
Para estimular mais, compartilho mais informações e algumas provas sociais:
Uma investigação inovadora sobre como a indústria de consultoria atrapalha a inovação, ofusca a responsabilidade corporativa e política e impede nossa missão coletiva de deter o colapso climático.
O 'Big Con' é possível nas economias de hoje por causa do poder único que as consultorias exercem por meio de contratos e redes extensas – como consultores, legitimadores e terceirizados – e a ilusão de que são fontes objetivas de especialização e capacidade.
'Uma acusação poderosa de uma indústria duvidosa. Este livro deveria ser lido em todo o mundo e dar início a um debate há muito esperado: precisamos mesmo de todos esses consultores?' Rutger Bregman, autor de Utopia para realistas e humanidade.
'O poder do governo é crucial para impulsionar a economia. Mas apenas se retiver a capacidade. Mazzucato e Collington escreveram um livro brilhante que expõe as consequências perigosas da terceirização da capacidade do Estado para a indústria de consultoria - e como reconstruí-la. Uma visão fascinante dos maiores jogadores do jogo e por que isso é importante para todos nós.' Stephanie Kelton, autora de O Mito do Déficit.
🏃💨 De saída
Não resisti em compartilhar com vocês este vídeo. Ele foi postado no Twitter e supostamente mostra uma conversa nada amistosa, engraçada e repleta do sarcasmo inglês.
Uma suposta influencer em sua “journey to get fit” tem sua live atrapalhada por um senhor. O que acontece depois eu deixo para vocês descobrirem.
Spoiler: vejam como o dinamismo do mundo pode criar barreiras para nossa mudança de comportamento kkkkk e se deliciem com obviedades do tipo: beba água 🙄.
🎁Achados da semana
💥Quando mais sensação de controle… Menos controle
Olhem o que as pessoas são capazes de criar para burlar a falsa sensação de controle
💥Mais Mariana Mazzucato
Uma matéria interessante que está com acesso no Financial Times, trás uma análise interessante que resume bem os pontos tratados no livro da Mariana Mazzucato que recomendei essa semana.
Se quiser ir além, ou se não estiver disposto a esperar o lançamento do livro por aqui, vale antecipar e pegar alguns spoilers no Financial times.
💥Evento interessante da LSE
Vale à pena se conectar neste evento da LSE. Ele não será online, mas sempre fica disponível a gravação algum tempo depois. É colocar na agenda para lembrar uns 20 dias depois da data de realização.